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A Vida é Feita de Likes

Pauliana Valente Pimentel

27 Fevereiro a 30 Março 2019

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A Vida é Feita de Likes 2019-02-26T09:27:12+00:00

Project Description

Utilizo o Instagram desde 2011, funciona para mim, como um diário, e não tenho por isso interesse em o tornar público. São fotografias da minha vida pessoal, os meus mais que tudo, os locais por onde ando, o “backstage” do meu trabalho.
O ano passado surgiu o convite da Pequena Galeria para fazer uma exposição individual e senti vontade de olhar para as oito mil e tal imagens que já tinha e fazer um “apanhado” dos meus últimos sete anos de existência, Foi um desafio muito interessante, e por vontade do destino ou não, uns dias antes da inauguração, o meu querido pai faleceu. Adiei a exposição por mais um ano, para a altura do meu aniversário, por ser sem dúvida a exposição mais intima que já fiz, pois fala da minha vida pessoal. “A vida é feita de likes” é uma expressão que os jovens hoje em dia usam, e na realidade, a maioria das pessoas guia-se pelo número de likes que tiveram numa determinada fotografia, video, ou comentário.
Nesta exposição não selecionei as imagens por ordem cronologica ou pelo número de likes, fiz uma seleção intuitiva, de forma a criar uma ou mais narrativas sobre a minha vida.

Pauliana Valente Pimentel


Nunca existiram tantas câmaras no mundo. Há um fenómeno de massificação e disseminação, com inúmeras implicações. Para uns isso contribui para a banalização. Há uma padronização média das fotos. Tornaram-se genéricas. Parecem todas iguais. São inautênticas, asseveram os mais críticos. Do outro lado da barricada existe quem afirme que toda a arte é uma construção, argumentando que a democratização da fotografia, o digital, as redes sociais ou a omnipresença da imagem, tanto podem uniformizar, como diversificar, estimular ou aprofundar o olhar.

Mesmo que exista maior homogeneização, a partir da enorme propagação, uma coisa é certa: O olhar de cada um continua a ser único. Por outro lado, se é verdade que a internet tem vindo a baralhar, nas últimas décadas, a forma como se cria, difunde, valida ou consome arte, com consequências que em grande medida ainda estão por avaliar, também não é menos certo que continuam a ser poucos os que nos conseguem comunicar circunstâncias individuais, sociais, psicológicas ou físicas, acerca da forma como nos sentimos e percebemos, em relação a nós e aos outros, reflectindo, ampliando ou problematizando a realidade.

Ao longo dos anos Pauliana Valente Pimentel (Lisboa, 1975) tem-no feito no contexto dos mais diversos desenvolvimentos artísticos, através de deambulações pela Grécia, Cáucaso, Paris, Cabo Verde, Dubai ou Açores, das quais resultaram livros como Causase, Souvenirs de Voyage (2011), projectos fotográficos e fílmicos como Jovens de Atenas(2012) e Entre Nous (2014) ou exposições como The Behaviour of Being (2015), Quel Pedra(2016), com a qual foi finalista do prémio Novo Banco, Empty Quarter (2017) ou ONarcisismo das Pequenas Diferenças (2018).

Em simultâneo a todos estes projectos expositivos tem mantido uma conta privada na rede social Instagram que, inevitavelmente, acaba por reflectir a sua vida nos últimos anos. Foi a partir delas, e de uma selecção organizada a partir dos últimos sete anos, que resulta a presente exposição. O título é, claro, uma menção, irónica, à forma como a maior parte olha funcionalmente para as redes sociais, a partir da quantidade de interacções geradas pelos Likes. Aqui o que interessou a Pauliana foi um outro processo, dando-nos a ver, afinal, que muitas das suas fotos de recreação estão (inevitavelmente?) contaminadas pelo olhar da artista.

Se em todos os seus projectos existe uma observação-participante, em que a artista procura compreender e colaborar nas dinâmicas dos sítios e das pessoas que o enformam, para melhor captar com justeza a intimidade e a poética das pessoas e dos lugares, aqui essa tensão é estreitada. Estamos perante personagens que, na maioria, ou são amigos ou familiares, e perante lugares, a praia, o campo ou o mar, num jogo de espaços exteriores e interiores, que fazem parte do seus rituais habituais.

Há em simultâneo, como na maioria dos seus projectos, um olhar de proximidade, que é tão fantasista quanto documental – não um documental no sentido de activar uma realidade, mas enquanto parcela de um quotidiano afectivo que é ao mesmo tempo natural, familiar, enunciador de curiosidade e inspirador, numa atenção constante à figura humana e ao seu envolvimento espacial. Olha-se para as imagens e vislumbramos a passagem do tempo ou a clivagem entre letargia e criação, como se fossemos convidados a olhar para um mundo que tem tanto de prático como de devaneio e sonho. Um universo particular, que é indiscutivelmente o de Pauliana Valente Pimentel, mas que nos conduz directamente até às pequenas grandes coisas de que todos somos feitos.

31-1-2019, Vítor Belanciano

Biografia 1975. Lisboa. Como artista visual e fotógrafa freelancer, faz trabalhos de fotoreportagem desde 1999 para diversos jornais e revistas como exposições individuais e colectivas em Portugal e no Estrangeiro - Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, Grecia, Turquia, EUA, China e Africa (Marrocos, Cabo Verde). Em 2005, participou no curso de fotografia do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística. Pertenceu ao colectivo [Kameraphoto] desde 2006 até à sua extinção em 2014. Em 2016 funda o novo colectivo “N’WE”. Em 2009 foi publicado o seu primeiro livro de autora ‘VOL I’, pela editora Pierre von Kleist e ‘Caucase, Souvenirs de Voyage’, pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2011. Realizou também diversos filmes. Em 2015 recebeu o prémio de Artes Visuais, do melhor trabalho fotográfico do ano, “The Passenger” pela Sociedade Portuguesa de Autores. Em 2016 foi nomeada para o Prémio "NOVO BANCO Photo 2016", pela série "The Behaviour of Being", tendo apresentado "Quel Pedra" no Museu Berardo. Esteve durante cinco anos representada na Galeria 3+1 Arte Contemporânea e sete anos pela Galeria das Salgadeiras, em Lisboa. Actualmente colabora com diversas galerias. Parte da sua obra pertence a coleccionadores privados e institucionais, tais como Fundação Calouste Gulbenkian, Partex, Fundação EDP e Novo Banco.

http://www. paulianavalentepimentel.com/